Gaio partia cada vez mais veloz rumo ao planeta dos ocsarracs, viajando várias vezes a velocidade do som. Atrás, na lua prisional, alarmes de alerta soavam em todo o satélite. De repente, Gaio observou através da janela panorâmica do elevador espacial incontáveis aeronaves se reunirem num enxame que, logo depois, passou a tomar-lhe a direção celeremente.
Aos montes, as aeronaves subiam carniceiras flanqueando com volteios a enorme viga-trilho eixo de sustentação e guia ao eretor transplanetário. Gaio estendeu as linhas de força emanadas-lhe da mente-cérebro para além da cabine e, desse modo, à medida que se deslocava, foi criando uma extensa região, ao redor da coluna-trilho atrás, com grande diferença de potencial. Pois bastou que as aeronaves autômatas adentrassem em altÃssima celeridade esse campo elétrico para senti-lo como um atordoante choque enormemente intensificado pela energia cinética. Foi que nem um forte pulso eletromagnético disparado por uma bomba eletrônica, o qual desorientou os sistemas remotos de navegação das aeronaves dos ocsarracs, jogando-as umas contra as outras nos volteios em torno da coluna-trilho. As colisões as arrebentavam sucessivamente.
Até que, após uma série de destruições induzidas, as aeronaves policiais finalmente decidiram se deslocar para as laterais, a fim de evitar a armadilha eletromagnética de Gaio. E Gaio, então, ficou temporariamente livre da perseguição, podendo prosseguir em sua viagem até o planeta dos ocsarracs.
Subitamente, o destino de Gaio acirrou-lhe a atenção. A moradia sideral dos ocsarracs, reparava, incandescia no espaço da mesma forma que uma estrela. Certamente, a intensa luz que emanava do astro se devia ao descomunal consumo de eletricidade pela civilização nele desenvolvida, aliás, superdesenvolvida.
Horas depois, ao passo que se aproximava do astro em que desembarcaria, Gaio mais se impressionava com o que nele observava. O planeta era todo ele uma imensa construção habitacional, completamente recoberto por torres interconectadas que, de tão colossais, faziam as de Aerópolis parecer nanicas. De fato, ali quase ninguém, em termos proporcionais, morava no chão. Lentamente, embora ainda muito veloz com o elevador, Gaio embrenhava as monumentais entranhas de tais edifÃcios pelo lado já iluminado pela anã-branca, o moribundo sol dos ocsarracs.
Cinzentos e pontiagudos, os edifÃcios sem firmamento no solo à vista aérea lembravam uma profusão de gigantescos espetos, tão grandes fisicamente quanto hostis na aparência. E Gaio estava plenamente ciente de que a recepção que teria não seria a das melhores. Um exército inteiro deveria estar sendo mobilizado em toda parte para ir-lhe de encontro. Por esse motivo, Gaio decidiu abandonar o veÃculo em rápido movimento e ainda em plena mesosfera: por meio de um projétil em fundição atômica, arrombou a porta do elevador interespacial para saltar a mais de 50 quilômetros de altura em seguida. A fim de não queimar que nem um meteoro se transmutando numa estrela cadente no atrito com o ar da atmosfera que adensava, ele se envolveu num casulo de força.
Gaio despencou nas monumentais montanhas de concreto. Enquanto isso, incontáveis aeronaves caças repentinamente assomaram logo atrás e de todos os lados, reunindo-se num enxame tão numeroso que rapidamente a tênue luz solar foi por ele toda obstruÃda: a monstruosa perseguição de que era objeto Gaio percebeu de imediato por meio das sombras que, do porte de colossais muralhas, de relance haviam sobre ele se deitado.
Num átimo, a legião de aeronaves apodiformes desfechou uma devastadora saraivada de projéteis luminosos contra Gaio. Este, por seu turno, fortaleceu imensamente o seu casulo de força e também o rotacionou a uma tremenda velocidade. Por conseguinte, ao atingirem com desmarcado impacto a poderosa proteção de Gaio, os pulsos tracejantes de energia foram sendo sucessivamente rebatidos, numa sequência quase igual àquela em que os disparos dos androides do terminal espacial da lua militar dos ocsarracs foram todos – mais do que rechaçados – devolvidos com igual força destrutiva.
Mas aqui, de modo impressionante, as aeronaves dos ocsarracs iam conseguindo se desviar do próprio ataque rebatido ao se deslocarem sincronizadamente em abrupto ângulo reto tais e quais os colibris. O enxame inteiro trocava lateralmente de lugar com cada aeronave seguida de outra.