Era fim de uma ensolarada tarde. Num dos quinze colégios de básico de Aerópolis, o de número sete, onde estudavam estudantes de quatro a 21 anos, na Grande Zona-Sul, os alunos e alunas uniformizados saÃam aos borbotões pelos portais respectivos à s séries que cursavam. Ganhavam as aleias calçadas da vasta praça defronte à fachada de arcos do edifÃcio monumental de meia centena de andares e em forma de H – o qual estendia, portanto, suas laterais, do lado da frente e do de trás, rente à s laterais dos largos –, atravessando canteiros de flores viçosas e bustos reluzentes em homenagem a ilustres do ensino para desembocar à s portas dos numerosos bondes flutuantes que os embarcariam e os levariam todos à s suas casas. No meio da aglomeração de alunos mais velhos que, enquanto ouviam músicas em seus iPods por meio de fones de ouvido sem fio, aguardavam sua vez de embarcar, Gaio, Polaris e Marina, de séries anteriores – e, por isso, mais novos –, chegaram ao local portando um laptop cada um à semelhança de qualquer outro estudante. Identificando uma certa pessoa pelas costas que seguia na direção de um certo grupo de alunos separado do resto dos colegas, Polaris disparou a chamá-la a atenção:
– Ei, Karai! – Polaris alcançou a pessoa ainda de costas, aparentemente ignorando de propósito o chamado que pudera muito bem ouvir se não tivesse sérios problemas de audição e que continuava a caminhar, e o tocou no ombro a fim de que parasse. – O pai o mandou... – Karai, um jovem quase adulto de olhos amendoados e cabelos longos, lisos, esticados e presos num rabo de cavalo, esguio e um pouco mais alto do que o irmão, estacou e virou-se de maneira brusca, provocando uma labareda instantânea em torno de si com um gesto indistinto com uma das mãos, a qual queimou de leve a mão de Polaris e o arremessou longe, ou ele se afastou descontrolado em função do susto, seu laptop batendo no piso de granito com um baque.
Além de deixar Gaio e Marina boquiabertos, os quais correram a socorrer Polaris ao chão, a grande chama instantânea que subira em redor do corpo de Karai arrancou gritos de espanto de alunos que se encontravam ali vizinhos, os quais desataram em murmúrios, procurando entender o que havia acontecido de fato, e lançaram olhares curiosos contra Karai.
– Nosso pai não mandou, não manda nada, maninho! – o dedo indicador em riste, apontado ameaçadoramente a Polaris, disse Karai entre os dentes.
Gaio e Marina ajudaram Polaris a se erguer.
– Miserável! Espere só até eu contar isso ao nosso pai... – ruborizado de vergonha e ódio, dizia em equivalente tom de ameaça Polaris, quando o irmão o interrompeu com um berro:
– NÂO! – Karai levantou e crispou o punho de modo raivosamente apertado como o comprimir de seus dentes inferiores com os superiores; Gaio viu, ou pensou ter visto, um rutilo Ãgneo na palma da mão do irmão de Polaris antes que ele a cerrasse. – Nem pense em colocar nosso pai à minha reta, seu cabeça de macarrão! Seu eu for obrigado a eliminá-lo de meu caminho, você será o culpado, entendeu?! E dê o fora daqui! Você me envergonha na frente de todos por andar na companhia desse seu amiguinho com fama de maneta!
Karai deu as costas ao irmão e, ignorando os olhares curiosos e indignados dos estudantes próximos, retomou o caminho em direção ao pequeno grupo à parte de jovens, rapazes e moças; eles o esperavam e lhe acenavam positivamente, em entusiasmada aprovação à sua estúpida atitude.
Sem querer, Gaio, que ignorara solenemente a humilhação lhe dirigida por Karai, permitiu que os olhos de Polaris encontrassem os seus. De cara amarrada, o amigo desviou o olhar, piscando a tentar aliviar a tensão da lágrima envergonhadora ameaçando aflorar.
– Vamos, Polaris – chamou Gaio ao perceber que aqueles cochichos e olhares de curiosidade e de dó começavam a constranger o amigo.