– Então terminou mesmo suas projeções teóricas e tal? Vai passar a conceder mais tempo a você para se divertir, sair? – quis saber Marina meio incrédula e meio que torcendo interiormente para explodir de júbilo com as possÃveis perspectivas vindouras se o que o amigo viesse a confirmar se revelasse verdadeiro.
– Sim, Marina. Prometi à minha mãe que, quando terminasse, e terminou, eu dedicaria mais tempo à minha vida emotiva.
A resposta de Gaio faiscou os olhos da amiga. Ela se encheu de uma exultação indisfarçável, a qual Gaio ignorou olhando fingidamente distraÃdo para os lados. Polaris também os acompanhava e, ele sim, sentiu visÃvel incômodo com a felicidade repentina de Marina. Sendo hora do almoço, o Sol raiava do zênite de um céu tão limpo quão azul. Ao ar livre, os jovens amigos estavam ocupando uma mesa da cantina de um grande colégio da Grande Zona Sul, tomando refrigerantes enquanto muitos alunos iam e viam, mas Gaio e Polaris, ambos cursando a faculdade de uma Universidade Octogonal daquela mesma grande região zoneada da cidade, tinham vindo ao encontro de Marina após findarem as aulas matutinas e práticas deles.
Gaio se convalescera. Encontrava-se mais viçoso do que nunca, o cabelo ondulado no alto da testa o deixando sexualmente muito atraente. Seus olhos da cor clara da castanha, consubstanciados com uma peculiar pinta ao lado do nariz, transmitiam-lhe ainda mais jovialidade ao semblante ingênuo. Com uma barba rala e incipiente, Polaris, por outro lado, aparentava um ar mais adulto em relação ao amigo, cada vez mais assemelhado ao pai. Já Marina nunca dera motivos tão fortes para Polaris perder o compasso de sua respiração em seus suspiros reiterados por ela. Por estar cursando as fases finais do colegial, era na prática uma mulher perfeita que gostava, contudo, de partilhar ainda da aparente ingenuidade emotiva de Gaio, certamente por ansiar a rememoração dos tempos inesquecÃveis de moleques nos quais eram fiéis cúmplices em suas brincadeiras libidinosamente inocentes – isso pelo menos até a fervura de seus hormônios sexuais. O rosto dela se mostrava lustroso em função do esplendor desses mesmos hormônios sexuais, e seu busto se encontrava com um delineio impecável – o qual, aliás, adorava exibir, quando podia e através de um decote no limite do comedimento, sensual sem chegar a vulgar, a Gaio; ficava à frente deste sem motivo algum até não poder suportar mais o embaraço, principalmente do amigo. Marina andava sempre com os lábios pintados de carmim e os cÃlios trabalhados com rÃmel a fim de acentuar-lhe os traços femininos e o brilho dos olhos azuis combinados com a cabeleira loira levemente ondeada, na maioria das vezes solta.
– Que tal irmos hoje, à tarde, à Biblioteca Central? – propôs Gaio e os amigos olharam-no incrédulos e atônitos. – Calma! – se apressou ele a justificar – É porque vai haver hoje lá um debate entre leitores de romances sentimentais. Nada de pretensioso, não. Será, sim, uma ótima oportunidade para conhecermos gente nova e interessante. Que tal?